Uma Visão Crítica Sobre o Processo de Tratamento

“Fisioterapeuta trata pessoas, não doenças.”

Introdução
A Organização Mundial de Saúde (OMS) após várias revisões propõe a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF).

A inovação trazida pela CIF está justamente no conceito de funcionalidade entendido aqui como um termo que classifica a capacidade e incapacidade do indivíduo e é constituída pelos componentes: estruturas e funções do corpo, atividade e participação social e fatores ambientais em uma perspectiva biopsicossocial.


Essa abordagem baseada na funcionalidade como foi proposta pela Organização Mundial de Saúde em 2001, ainda não está sendo totalmente adotada no processo de avaliação e tratamento do paciente naNegritos diversas especialidades da Fisioterapia.

O modelo que tem sido dominante no mundo ocidental para tratar da saúde e da doença é o biomédico, que pressupõe que os responsáveis pelos problemas de saúde sejam os agentes etiológicos específicos que alteram as estruturas e/ou funções do corpo humano. Essa visão, baseada na filosofia cartesiana, entende o corpo como uma máquina: se uma parte funciona mal, esta pode ser reparada ou trocada. Mente e corpo são duas entidades consideradas separadamente.

O modelo biomédico configurado como um modo de atuação intervencionista focado nas afecções e em conseqüências físicas como limitação da ADM ou da força muscular, ainda predomina na conduta fisioterapêutica nos tempos atuais, embora seja considerado uma forma reducionista de intervenção.  

Visão do Paciente como um Ser Biopsicossocial
O conceiro biopsicossocial origina-se na Medicina Psicossomática, onde toda pessoa é um complexo sociopsicossomático, isto é, tem potencialidades biólogicas, psicológicas e sociais que respondem simultaneamente às condiões de vida.

O modelo biopsicossocial compreende a saúde como fruto de uma combinação de vários fatores, incluindo características biológicas (por exemplo, predisposição genética), fatores de comportamento (ex: estilo de vida) e condições sociais (ex: influências culturais). Desse modo, a saúde e a doença não são opostas, e sim, compreendidas como um continuum. De acordo com esse modelo, o atual conceito de saúde proposto pela Organização Mundial da Saúde inclui o bemestar físico, mental e social, e valoriza a percepção pessoal e subjetiva do indivíduo como um fator fundamental a ser considerado (WHO, 2004).

Queremos chamar atenção para a abordagem integral do paciente, como um ser biopsicossocial. Nesse contexto, o processo de avaliação dos pacientes precisa ser dotado de elementos que possibilitam averiguar não somente as funções motoras, mas também as condições psicossociais e aspectos relacionados à funcionalidade e qualidade de vida.

Apesar do conhecimento sobre a importância da abordagem baseada na funcionalidade aumentar a cada dia, o que se observa frequentemente é a aplicação do modelo médico linear focado na doença, na deficiência e na incapacidade física, adotada na prática clínica do fisioterapeuta.

A atuação do fisioterapeuta ainda está focada nas deficiências encontradas nos pacientes, o que foi evidenciado pelo estudo realizado por Silva (2008) onde os resltados sugerem que os futuros fisioterapeutas estão focalizando sua atenção preferencialmente sobre as funções e estruturas corpóreas, seguindo a formação biomédica.

Conclusão
O modelo biopsicossocial proporciona uma visão integral do ser e do adoecer que compreende as dimensões física, psicológica e social. A partir da visão biopsicossocial é importante uma comunicação efetiva com o paciente buscando a compreensão e levantar toda infornação relevante aos cuidados, orientações e recomendações ao paciente.

É importante buscar Informações além do exame físico, conscientizar o paciente sobre o processo do adoecer e o que o ele e o ambiente tem em comum com tratamento. Um exemplo claro, é o paciente com Asma, onde o erroneamente o terapeuta focaliza o tratamento somente dentro da sua clínica sem nenhum interesse pessoal no paciente, ignora seu ambiente social. Consequentemente, o tratamento não evolui, porque o fisioterapeuta não teve interesse em investigar o ambiente e as questões de moradia do paciente.

Também não procurou conhecer o aspecto psicológico na causa ou agravamemto das doeças como o Stress, muito comum nos dias de hoje. Essas faltas são da responsabilidade do terapeuta e não do paciente. Em uma revisão sistemática, Gusman (2001) relata que existe forte evidência científica mostrando que a reabilitação com foco biopsicossocial e multidisciplinar possui melhores desfechos quando comparada ao tratamento não multidisciplinar, para pacientes com dor crônica. Essa abordagem constata a importância da ação multidisciplinar e de simplesmente ver o paciente como um todo, que precisa ser tratado como um todo, por isso encaminhamento os pacientes a outros profissionais da reabilitação.

Referências
ALMONDES, K. M. Tempo na Psicologia: Contribuição da Visão Cronobiológica à Compreensão Biopsicossocial da Saúde. Psicologia Ciência e Profissão, 2006, 26 (3), 352-359.

CASTRO E.K. Psicologia Pediátrica: A Atenção à Criança e ao Adolescente com Problemas de Saúde. Psicologia Ciência e Profissão, 2007, 27 (3), 396-405.

FRANÇA, A.C.L. Treinamento e Qualidade de Vida. USP, 2007.

MARCO, M.A.D. Do Modelo Biomédico ao Modelo Biopsicossocial: Um Projeto de Educação Permanente. Rev. Bras. Educação Médica. V.30, n.1, 2006.

MASSOLA, R.M. Qualidade de vida e sofrimento: aspectos biopsicossociais da fadiga e da dor e a necessidade da integração disciplinar.

SILVA, A. C. L. et al. A formação fisioterapêutica no campo da ortopedia: uma visão crítica sob a óptica da funcionalidade. ACTA FISIATR 2008; 15(1): 18 – 23.

2 comentários:

Unknown disse...

Olá! Eu estou a fazer um trabalho sobre fisioterapia e queria citar algumas ideias deste documento, para isso necessito de saber quem é o autor e a data de criação. Agradecia que me disponibiliza-se essa informação, se possível.
Atenciosamente,
Eva

Terapia do Movimento disse...

Olá Colega Eva
Eu sou fisioterapeuta Traumato-Orto Funcional e autor do blog Terapia do Movimento, o qual uso como pseudônimo também. Mas, não precisa citar meu nome ou o blog, tem a minha total permissão de usar o texto como quiser, com as referências anexadas no artigo (todas estão na internet), porém, consulte e leia as referências também se caso for apresentar oficialmente num artigo ou monografia escreva com as suas palavras e cite a fonte no final do parágrafo como manda a metodologia científica. Não é plágio quando vc interpreta o texto corretamente e cita a fonte. Como eu sempre digo "Monografia é a arte de dizer o que se quer com a palavra dos outros." Essa ideia do artigo surgio lendo a CIF (Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde), que sugere aos profissionais da Saúde olharem o paciente como um todo. Vc encontra a CIF para download nesse link http://www.dgidc.min-edu.pt/fichdown/ensinoespecial/CIF1.pdf. Boa leitura e bom artigo.

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