Estimulação Magnética Transcraniana na Reabilitação de Pacientes com AVC


Introdução

A Estimulação Magnética Transcraniana (EMT) trata-se de uma técnica não-invasiva e indolor em seres humanos conscientes. Essa técnica é baseada em um campo magnético variável. Uma bobina pequena que recebe uma corrente elétrica alternada extremamente potente é colocada sobre o crânio humano na região do córtex. A mudança constante da orientação da corrente elétrica dentro da bobina é capaz de gerar um campo magnético que atravessa alguns materiais isolantes, como a pele e os ossos, gerando a corrente elétrica dentro do crânio, onde é capaz de ser focalizada e restrita a pequenas áreas, dependendo da geometria e forma da bobina.

Quando essa corrente atinge o córtex motor, ela pode produzir uma resposta muscular no membro contralateral. Quando a EMT é aplicada sobre outras regiões do córtex cerebral, os resultados irão depender das funções envolvidas com a área escolhida; logo, efeitos cognitivos e emocionais são possíveis.





A EMT tem sido continuamente aperfeiçoada e atualmente é considerada confiável e de baixo risco para pesquisa em seres humanos, sendo usada como uma ferramenta confiável para a modulação não-invasiva de regiões corticais. Em conseqüência, a EMT tem sido sugerida para o tratamento de diversas doenças neurológicas e psiquiátricas, reabilitação pós-acidente vascular cerebral (AVC) e ainda para a aceleração do aprendizado.


Princípios de estimulação magnética transcraniana
Inicialmente, coloca-se uma bobina sobre o couro cabeludo. A bobina é conectada a um  capacitor através de um circuito elétrico. Quando o circuito é ligado, um pulso de corrente (cuja  intensidade máxima é de cerca de 5000 Amperes) passa rapidamente pela bobina. Em seguida, a corrente  é desligada. A mudança rápida na intensidade do campo elétrico promove a indução de um campo  magnético, com linhas de fluxo perpendiculares à bobina. A intensidade do campo magnético varia de  acordo com os parâmetros do equipamento utilizado, mas em geral é de aproximadamente 1,5 - 2,2 Tesla  nas proximidades da bobina. 

A intensidade máxima do campo é atingida em cerca de 100 ms, caindo  rapidamente após este intervalo de tempo. A mudança rápida na intensidade do campo magnético  promove, dentro do crânio, a indução de um novo campo elétrico, perpendicular ao campo magnético. Em  um meio condutor homogêneo, o campo elétrico faria com que fluíssem correntes em um plano paralelo ao da bobina. No córtex, os meios condutores são estruturas neurais localizadas em direção aproximadamente paralela à da bobina, a uma profundidade de 1,5 - 2 cm abaixo da superfície.

O campo induzido no tecido cerebral é de cerca de 100 mV/mm. Quanto maior a intensidade do campo no córtex cerebral, maior a extensão da despolarização de membranas celulares e, consequentemente, maior a área  de ativação neuronal. Como o crânio e o couro cabeludo apresentam alta resistência elétrica, a corrente que flui nestas estruturas é mínima, diminuindo o desconforto que poderia ser causado por excitação de terminações nociceptivas.




Há várias técnicas de EMT, com diferentes objetivos, como a investigação de mecanismos fisiológicos e fisiopatológicos corticais - particularmente relacionados à motricidade, plasticidade e aprendizado  - e o tratamento de doenças neurológicas e psiquiátricas.

EMT na Reabilitação de Pacientes com AVC
A EMT é um método utilizado para o tratamento de pacientes com AVC. Quando os pulsos magnéticos são administrados de forma rítmica (EMT-r), por vários minutos, pode haver uma mudança no funcionamento da área do cérebro estimulada, habitualmente de forma temporária.
A ideia é que se use a EMT-r possa aumentar a função de áreas do cérebro que não tiverem sido afetadas pelo AVC, para que elas tentem compensar as funções das áreas lesadas de forma irreversível. Quando são empregadas frequências de EMT maiores que 1Hz, a EMT-r é denominada de alta frequência, ou “rápida” e quando frequências menores ou iguais a 1Hz são utilizadas, EMT-r de baixa frequência, ou “lenta”. Em geral, EMT-r de baixa frequência promove diminuição temporária de excitabilidade do córtex motor (área responsável por movimentos do corpo), enquanto o efeito oposto é obtido com EMT-r de alta frequência.


Teoricamente, em condições normais, um hemisfério cerebral pode inibir o outro. De acordo com essa teoria, após um AVC, a sequela neurológica – por exemplo, a perda de movimentos da mão – não depende apenas da perda de função da área cerebral afetada, mas também do aumento do efeito inibitório de áreas do hemisfério não lesado, sobre o hemisfério no qual ocorreu o AVC. Assim, uma alternativa para diminuir o impacto da sequela neurológica sobre o dia-a-dia do paciente seria modificar o funcionamento cerebral, diminuindo a atividade do hemisfério não lesado, e/ou aumentando a atividade de áreas poupadas pelo AVC, no hemisfério lesado. A EMT-r “lenta” do hemisfério não afetado, ou a EMT “rápida” do hemisfério afetado têm sido utilizadas, de forma experimental, buscando esses objetivos.


Trabalhos científicos nos quais a EMTr “lenta” foi utilizada para inibir o hemisfério não afetado em pacientes hemiparéticos após AVC, na fase crônica, foi obtida melhora do desempenho da mão, em tarefas realizadas em laboratório e em algumas escalas que incluem tarefas realizadas no cotidiano. Resultados semelhantes foram obtidos com a administração de EMTr “rápida” para estimular o hemisfério afetado, em uma fase precoce ou tardia, em pacientes hemiparéticos após AVC. 


Conclusão
A EMT é considerada uma técnica segura, desde que as contra-indicações absolutas para seu uso sejam respeitadas: marcapassos cardíacos, aparelhos eletrônicos ou objetos metálicos intracranianos, falhas ósseas no crânio. Relatos de  crises convulsivas após EMT-p são raros na literatura, quer em voluntários saudáveis, quer em portadores  de doenças neurológicas, com ou sem epilepsia. Nos últimos anos, milhares de pacientes e voluntários foram submetidos a EMT-p em todo o mundo, sem que houvesse desencadeamento de crises epilépticas. Desta forma, considera-se a EMT uma técnica bastante segura e promissora.

Referências
BOGGIO, P. S. Estimulação magnética transcraniana na neuropsicologia: novos horizontes em pesquisa sobre o cérebro. Rev Bras Psiquiatr. 2006;28(1):44-9.

CONFORTO, A.B; FERREIRA, J.R. Neuroestimulação e reabilitação motora no acidente vascular cerebral. http://www.comciencia.br/.

PORTELA, F.A., GONDIM, F.A.A. Estimulação Magnética Transcraniana: Dos Princípios à Segurança no Uso. REPM – volume 3 – n. 1 – Jan - Mar 2009.

3 comentários:

Anônimo disse...

Hmmm, muito interessante, já havia ouvido falar desta técnica, mas para distúrbios psicológicos como depressão. De qualquer modo, muito bom ficar sabendo.

Raylana Nascimento disse...

Muito interessante, este post, já tinha lida a respeito da técnica.
Gostei do blog, vou seguir vocÊs e também adicionar o blog a minha lista, ok?

Unknown disse...

Quando poderemos testar em crianças com Hemiparesia?

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