Introdução
Os mecanismos
responsáveis pela lesão cerebral variam de acordo com a idade do paciente.
Geralmente o trauma em crianças ocorre por quedas ou abusos e para as crianças
com mais idade e os adultos são comprometidos primariamente por lesões de alta
velocidade, lesão não-penetrante ou lesão penetrante em consequência de
violência pessoal. As lesões relacionadas aos meis de transportes como as
automobilisticas (carros, motos, etc.) e pedestres são as mais comuns, seguidas
de quedas e agressões.
Anatomia
O conhecimento da
anatomia do crânio e do encéfalo é essencial para a compreensão da
fisiopatologia da lesão cerebral. O couro cabeludo é a camada mais externa que
recobre a cabeça e proporciona uma proteção ao crânio e ao encéfalo. O couro
cabeludo é composto por várias camadas, incluindo a pele, o tecido conjuntivo e
o periósteo do crânio. Os processos de envelhecimento e de calvície podem
tornar o couro cabeludo mais fino resultando em diminuição da proteção.
O couro cabeludo
e os tecidos moles que recobrem a face são intensamente vascularizados, e
ferimentos aparentemente pequenos podem produzir grandes hemorragias. A
hemorragia não controlada de uma laceração complexa do couro cabeludo pode
levar ao choque hipovolêmico. Apesar de lesões do couro cabeludo produzirem sangramento
contínuo, a hemorragia muitas vezes pode ser controlada com pressão manual
direta ou curativo compressivo.
O crânio é
composto por vários ossos que se fundem em uma única estrutura durante o
desenvolvimento da criança. Várias pequenas aberturas (forames) através da base
do crânio permitem a passagem de vasos sanguíneos e nervos cranianos. Uma
abertura maior denominada forame magno está localizada na porção posterior da
base do crânio e serve de passagem para o tronco cerebral e medula espinhal. Na
infância, muitas vezes duas fontanelas podem ser identificadas entre as
estruturas ósseas. O bebê não possui proteção óssea sobre esta porção do
cérebro até a fusão dos ossos, o que ocorre em geral até os 2 anos.
Apesar de a maior
parte dos ossos que formam o crânio serem espessos e fortes, as regiões
temporais e etmoidais são especialmente finas sendo mais suscetíveis a
fraturas. O crânio fornece proteção ao encéfalo, mas a superfície interna da
base do crânio é rugosa e irregular. Quando submetido a trauma contuso, o
encéfalo pode deslizar sobre essas irregularidades produzindo contusões ou
lacerações cerebrais.
Três membranas
distintas, denoinadas meninges, recobrem o encéfalo. A membrana mais externa,
chamada dura-matér, é composta por um tecido fibroso resistente e reveste a
abóbada craniana (o crânio). As artérias meníngeas médias estão localizadas
entre o crânio lateral (ossos temporais) e a dura-máter está no espaço
epidural. Normalmente a dura-máter está aderida à superfície interna da abóbada
craniana; porém um impacto nesta região de ossos finos pode produzir fratura do
crânio que afeta a artéria, fazendo com que o sangue se acumule neste espaço
potencial. Esta lesão é conhecida como hematoma edipural.
A pia-máter é uma
membrana fina que está aderida ao córtex cerebral. Entre a dura-máter e a
pia-máter existe a membrana aracnóide, que tem a aparência de uma teia de
aranha. Abaixo desta membrana intermediária das meninges situa-se o espaço
subaracnoideo, que é preenchido pelo líquido cefalorraquidiano (LCR). O LCR,
produzido no sistema ventricular do cérebro, circunda o encéfalo e a medula
espinhal e funciona como um amortecedor dos impactos sobre o encéfalo. O trauma
fechado do crânio que lesiona algumas veias situadas entre o encéfalo e os
seios sagitais pode levar a hematoma subdural (coleção de sangue entre a
dura-máter e a aracnóide) ou a hemorragia subaracnoidea (sangramento para
espaço onde circula o LCR).
O encéfalo ocupa
cerca de 80% do espaço intracraniano e se divide em três segmentos principais –
o cérebro, o cerebelo e o tronco cerebral. O cérebro é constituído de dois
hemisférios – o direito e o esquerdo – que podem ser subdivididos em vários
lobos. O cérebro é responsável pelas funções sensitivas, motoras e intelectuais
superiores, como a inteligência e a memória. O cerebelo está localizado na
fossa posterior do crânio, entre o tronco cerebral e o cérebro e coordena o
movimento.
O tronco cerebral
contém a medula, área que controla muitas funções vitais, incluindo a
respiração e a frequência cardíaca. Muito do sistema reticular ativador (SRA),
região do cérebro responsável pelo nivel de consciência, também é encontrado no
tronco cerebral. Um trauma fechado pode lesar o SRA, levando à perda temporária
da conciência. A tenda do cerebelo, uma porção da dura-máter, situa-se entre o
cérebro e o cerebelo e possui uma abertura, a incisura da tenda, no nível do
mesencéfalo.
Os doze nervos
cranianos se originam no cérebro e no tronco cerebral. O nervo oculomotor, III
nervo craniano, controla a constrição da pupila e propicia uma ferramenta
importante na avaliação do paciente com suspeita de trauma de crânio.
Fisiologia
O encéfalo tem a capacidade
de auto-regular o fluxo de sangue que recebe quando se encontram estresses
fisiológicos. O fluxo sanguíneo cerebral (FSC) permanece praticamente
constante, com discretas alterações na prassão sanguínea; no entanto, começa a
diminuir quando a pressão arterial média (PAM) cai abaixo de 60 mmHg. A PAM
pode ser calculda como na fórmula abaixo:
PAM = Pressão diastólica + 1/3
pressão de pulso
A pressão de
pulso é calculada pela diferença entre a pressão sistólica e a pressão
diastólica. Por exemplo, a PAM de paciente com pressão arterial de 120x80 mm Hg
pode ser calculada da seguinte forma:
PAM = 80 + 1/3 (120 – 80)
PAM = 93 mm Hg
Outro parâmetro
fisiológico importante é a pressão de perfusão cerebral (PPC), que é calculada
pela diferança entre a PAM e a pressão intracraniana (PIC).
PPC = PAM –
PIC
A pressão
arterial média normal de 85 a 95 mm Hg, a pressão intracraniana é considerada
normal abaixo dos 20 mm Hg. Portanto, a pressão de perfusão cerebral (PPC) está
normalmente entre 70 e 80 mm Hg.
A pressão parcial
de dióxido de carbono no sangue arterial (PaCO2) também tem efeitos sobre a FSC
(fluxo sanguíneo cerebral). A elevação da PaCO2, além do seu valor normal que é
de 35 a 45 mm Hg, produz dilatação das arteríolas cerebrais (aumentando a FSC),
ao passo que a diminuição da PaCO2, produz vasoconstrição cerebral (diminuição
da FSC).
Fisiopatologia
A Lesão Cerebral
Traumática (LCT) pode ser dividida em duas categorias:
- 1.
Lesão cerebral primária (trauma direto no encéfalo associado com lesões
vasculares) representando por danos graves ás células nervosas como
resultado direto de uma agrassão inicial, independente do mecanismo de
lesão. Se os danos forem extensos, esses neurônios podem morrer.
Acredita-se que os neurônios sejam limitados quanto a regenerar-se.
Dependendo da localização, função e números de neurônios lesionados pode
ocorrer lesão neurológica permanente.
- 2.
Lesão cerebral secundária: refere-se a uma extensão da magnitude da lesão
cerebral primária devido a fatores que resultam em déficit neurológico
permanente mais extenso. A identificação e o tratamento rápido destas
condições ajudam a minimizar a extensão dos danos neurológicos. As causas
da lesão cerebral secundária podem ser divididas em sistêmicas e
intracranianas.
a) Fatores Sistêmicos podem
levar a lesão cerebral secundária frequentemente podem ser identificados e
tratados no ambiente pré-hospitalar. Estes fatores incluem hipóxia,
hipercapnia, hipocapnia, anemia, hipotensão, hiperglicemia e hipoglicemia.
b) Com excessão das
convulsões, as causas intracranianas de lesão cerebral secundária podem apenas
ser suspeitadas, mas não identificadas no local da ocorrência. Exemplos de
lesões intracranianas que são diagnosticadas no ambiente hospitalar são o edema
cerebral e os hematomas intracranianos, ambos podem provocar aumento da PIC.
Causas
Sistêmicas
Hipóxia,
Hipocapnia e Hipercapnia:
Em pacientes com
trauma multissistêmico, a hipóxia pode ser decorrente de várias causas,
incluindo a obstrução da via aérea, aspiração de sangue ou conteúdo gástrico,
contusões pulmonares e pneumotórax. Diferente do músculo-esquelético que mantém
suas funções em anbiente anaeróbico, os neurônios do sistema nervoso central
dependem de oferta constante de oxigênio. A confusão mental é frequentemente o
sinal mais precoce de que a oferta de oxigênio para o cérebro está prejudicada.
O tecido cerebral
isquêmico pode evoluir para morte tecidual mesmo com pequenas períodos de
hipóxia, complicando a lesão primária. Lesão cerebral irreversível (morte
cerebral) pode ocorrer em apenas 4 a 6 minutos de anóxia cerebral.
Tanto a
hipocapnia (diminuição da PaCO2) como a hipercapnia (aumento da PaCO2) podem
piorar uma lesão encefálica. Quando ocorre constrição dos vasos cerebrais, como
resultado de uma hipocapnia significante, o FSC está comprometido, levando à
diminuição da oferta de oxigênio para o cérebro. A hipercapnia pode ser
consequência de hipoventilaçao devido à intoxicação por álcool ou drogas ou de
um dos muitos padrões anormais de ventilação observados nos pacientes com
aumento de PIC. A hipercapnia provoca vasodilatação cerebral e pode aumentar a
PIC ainda mais.
Anemia e
Hipotensão
Pacientes com
lesão cerebral grave também podem apresentar hemorragia externa e interna
decorrente de lesões associadas. Se houver perda sanguínea significante, a
anemia resultante pode prejudicar gravemente a oferta de oxigênio, levando a
danos irreversíveis do tecido cerebral isquêmico.
Após trauma
craniano grave, o encéfalo com frequência perde a capacidade de auto-regular
seu FSC que frequentemente cai para 50% do normal dentro de poucas horas. Como
já mencionado, os dois fatores determinantes da perfusão cerebral são a PAM e a
PIC. A diminuição da PAM, como ocorre no choque hipovolêmico, pode resultar em
diminuição da oferta de oxigênio cerebral, mesmo que a PIC esteja normal. A
hipotensão pode ser resultado direto de lesão encefálica grave e quase sempre
ocorre antes da morte. Portanto, quando é identificada hipotensão em paciente
com Lesão Cerebral Traumática Grave, devem ser consideradas outras causas não
relacionadas com a lesão encefálica, inclusive hemorragia interna ou externa
significante e choque neurogênico.
Hipoglicemia e
Hiperglicemia
Tanto a elevação
(hiperglicemia) como a diminuição (hipoglicemia) das taxas de glicose no sangue
podem ser prejudiciais para o tecido cerebral isquêmico. Os neurônios são
incapazes de armazenar glicose e necessitam de suprimento constante para
realizar o metabolismo celular. Na ausência de glicose, os neurônios isquêmicos
podem sofrer lesões definitivas. Níveis elevados de glicose sanguínea em
pacientes com lesão cerebral traumática têm sido também associados com
resultado neurológico ruim.
Causas Intracranianas
Convulsões
Um doente com
Lesão Cerebral Traumática Aguda corre risco de apresentar convulsões por
inúmeras razões. Hipóxia decorrente de problemas tanto na via aérea como na
ventilação pode induzir convulsões generalizadas, assim como a hipoglicemia e
as alterações eletrolíticas. O tecido cerebral isquêmico ou lesado pode ser
foco irritável e produzir convulsões do tipo grande mal ou estado epilético.
Convulsões, por sua vez, podem agravar a hipóxia preexistentes decorrentes de
dano à função respiratória. Além disso, atividade cerebral maciça associada a
convulsões generalizadas esgotam rapidamente os níveis de oxigênio e glicose,
piorando ainda mais a isquemia cerebral.
Edema Cerebral
e Hematomas Intracranianos
O edema cerebral
frequentemente ocorre no local da lesão cerebral primária. Fluído intracelular
pode se acumular no interior dos neurônios lesados, e a lesão pode levar à
liberação de substâncias inflamatórias que permitem que o fluído axtravase
através das membranas capilares, aumentando o fluído intersticial no tecido
cerebral. À medida que o edema se desenvolve, um ciclo perigoso pode se
estabelecer porque o edema prejudica ainda mais o fornecmento de oxigênio,
comprometendo o tecido isquêmico adjacente, resultando em mais edema.
Hematomas
intracranianos são potencialmente grande ameaça à vida porque ocupam espaço
precioso dentro do crânio. O tecidos cerebral adjacente pode ser comprimido,
agravando a isquemia cerebral ou levar à herniação. Tanto o edema cerebral como
o hematoma intracraniano podem resultar em perigosos aumentos da PIC.
Além de alteração
do nível de consciência, estes problemas podem produzir alterações na função
pupilar. O edema cerebral ou um hematoma intraraniano podem forçar uma porção
do lobo temporal (uncus) do cérebro através da tenda do cerebelo em um processo
denominado herniação uncal. Uma pupila dilatada e lentamente reativa é um sinal
típico de compressão do terceiro nervo craniano que cruza a incisura tentorial,
ao passo que uma pupila dilatada e não reativa sugere herniação uncal do mesmo
lado da pupila anormal.
Após o fechamento
das fontanelas, a abóbada craniana, na ausência de fraturas de crânio, torna-se
uma caixa rígida com apenas uma abertura significante em sua base. Assim, tanto
o edema cerebral quanto o hematoma intracraniano podem comprimir o tronco
cerebral inferiormente através do forame magno em um processo denominado
herniação central. Assim como a herniação uncal, esta ocorrência desastrosa
resulta em morte cerebral.
Hipertensão
Intracraniana
O aumento da PIC
prejudica significativamente a perfusão cerebral. A doutrina de Monro-Kellie
afirma que o crânio, essencialmente uma caixa rígida com uma única abertura
grande no forame mago, contém três elementos – o encéfalo, o LCR e o sangue. Se
o volume de um desses componentes aumentar, como ocorre no edema cerebral, o
volume dos outros dois deve diminuir porque o volume do conteúdo intracraniano
é fixo. Ocorre diminuição do FSC e o LCR é forçado para a porção inferior do
crânio ao longo da medula espinhal. A hipóxia resultante do tecido encefálico
produz mais edema cerebral, e o ciclo se repete.
À medida que a
hipóxia do tecido cerebral se instala, são ativados reflexos num esforço para
manter a oferta de oxigênio para o encéfalo. Para superar o aumento da PIC, o
sistema nervoso autônomo é ativado para aumentar a pressão sanguínea sistêmica,
e em consequência a PAM, para manter uma PPC normal. A pressão sistólica pode
alcançar valores até 250 mm Hg. Entretanto, assim que os barorreceptores na
artéria carótida e no arco aórtico detectam esse aumento importante na pressão
sanguínea, são enviadas mensagens ao tronco cerebral para a ativação do sistema
nervoso parassimpático. O sinal é transmitido então ao longo do décimo nervo
craniano, o nervo vago, para diminuir a frequência cardíaca. O fenômeno de
Cushing se refere a esta combinação ominosa de aumento significativo da pressão
sanguínea arterial e consequente bradicardia que pode ocorrer com aumento
importante da PIC.
O fluxo de
oxigênio para o cérebro é mais adversamente afetado quando uma diminuição da
PAM ocorre em doente que também apresenta aumento da PIC. Se a PPC se aproxima
do zero, o mesmo ocorre com o FSC e a oferta de oxigênio. A menos que esta
situação fatal seja rapidamente corigida, ocorrerão danos permanentes ao
encéfalo e consequente morte encefálica.
A hipertensão
intracraniaca frequentemente produz padrão ventilatório anormal ou apnéia que
pioram ainda mais a hipóxia e alteram significativamente os níveis de dióxido
de carbono no sangue. A ventilação de Cheyne-Stokes é o ciclo repetitivo de
respirações lentas e superficiais que evoluem para rápidas e profundas e voltam
a ser lentas e superficiais. Breves períodos de apnéia podem ocorrer entre os
ciclos.
A hiperventilação
central neurogênica se refere a consistentes respirações rápidas e profundas e
a ventilação atáxica se caracteriza por esforço respiratório irregular com
ausência de padrão discernível. A função respiratória espontânea cessa quando
ocorre herniação e morte encefálica.
Caracteristicamente,
posturas motoras anormais acompanham o aumento da PIC. Na postura de
decorticação o paciente apresenta flexão das extremidades superiores e extensão
com rigidez das extremidades inferiores. Achado mais ominoso é a postura de
descerebração na qual ocorre extensão de todos os membros, podendo ocorrer também
arqueamento da coluna. Após a herniação, as extremidades tornam-se flácidas e
sem atividade motora.
Avaliação
Uma rápida
avaliação da biomecânica do trauma combinado com um rápido e eficiente exame
primário ajudará a identificar problemas com potencial risco de vida em doente
com suspeita de LCT.
Biomecânica do
Trauma
Como em todas as
vítimas de trauma, a avaliação deve incluir considerações sobre o mecanismo da
lesão. Devido ao fato de muitos pacientes com LCT Grave apresentam alteração do
nível de consciência, dados importantes sobre a biomecânica devem ser obtidos por
meio da observação da cena ou do relato de testemunhas.
O pára-brisa do
veículo ocupado pela vítima pode apresentar aspecto de “teia de aranha”,
surerindo impacto da cabeça da vítima contra ele, ou um objeto sujo de sangue
que foi usado como arma em um ataque pessoal pode estar presente na cena. Estas
informações importantes devem ser transmitidas à equipe do hospital, pois elas
podem ser essenciais para o diagnóstico e o tratamento adequado da vítima.
Vias Aéreas
A permeabilidade
das vias aéreas deve ser examinada. Em pacientes inconscientes, a língua pode
obstruir completamente a via aérea. Ruídos ventilatórios indicam obstrução
parcial que pode ser provocada pela língua ou por um corpo estranho. Vômito,
sangramento e edema decorrente de trauma facial comprometem a via aérea de um
paciente com LCT.
Respiração
A avaliação da
função respiratória deve incluir a observação da frequência ventilatória,
profundidade e eficiência da respiração. Como já mencionado, alguns padrões
respiratórios anormais podem resultar de trauma craniano grave. Em vítimas de
trauma multissistêmico, lesões torácicas podem comprometer tanto a ventilação
quanto a oxigenação. Fraturas da coluna cervical ocorrem em cerca de 2% a 5%
dos pacientes com LCT e podem interferir significativamente na ventilação. A
oximetria de pulso e a monitoração da curva de CO2, se disponível, devem ser
utilizadas durante o transporte, pois podem fornecer informações valiosas para
direcionar posterior avaliação e tratamento do doente.
Circulação
O socorrista
deve, se possível, observar e quantificar a presença de sangramento externo
evidente. Na ausência de perda sanguínea externa significante, a presença de
pulso rápido e fraco em vítima de trauma fechado sugere hemorragia, com risco
para a vida, para o espaço pleural, peritôneo, retroperitôneo, ou em tecidos
moles adjacentes a fraturas de ossos longos. Em criança que ainda apresenta as
fontanelas abertas, pode ocorrer perda sanguínea para o interior do crânio
suficiente para produzir choque hipovolêmico. Um pulso lento e forte pode
resultar de hipertensão intracraniana e indica uma herniação iminente (fenômeno
de Cushing). Em paciente com lesões de risco para a vida, o transporte não deve
ser retardado para realizar aferição da pressão arterial, mas esta deve ser
realizada durante o transporte assim que possível.
Incapacidade –
Avaliação Neurológica
Durante o exame
primário e após ter iniciado as medidas apropriadas para tratar as alterações
identificadas nas vias aéreas, na respiração e na circulação, deve ser
calculada a linha basal do escore da Escala de Coma de Glasgow para avaliação
mais precisa do nível de consciência do paciente. O escore da Escala de Coma de
Glasgow é calculado usando-se a melhor resposta do paciente quanto a abertura ocular,
resposta verbal e resposta motora.
Se o paciente não
apresentar abertura ocular espontânea, deve ser usado um comando verbal
(exemplo: “Abra os olhos!”). Se não responder ao comando verbal, deve ser
aplicado um estímulo doloroso como exercer pressão no leito ungueal com uma
caneta ou apertando a dobra da região axilar anterior.
A resposta verbal
do paciente pode ser avaliada usando questões como “O que aconteceu com você?”.
se plenamente orientado, o paciente irá fornecer uma resposta coerente. Ao
contrário, a resposta verbal pode ser considerada como confusa, inapropriada,
ininteligível ou ausente. Se o paciente estiver intubado, o escore é calculado
apenas pela abertura ocular e resposta motora e a letra “T” é acrescentada ao
valor deste escore, para relatar a impossibilidade de avaliar a resposta
verbal, exemplo “8T”.
O último
componente da Escala de Coma de Glasgow é a resposta motora. Um comando simples
e claro deve ser dado ao paciente, tal como “levante dois dedos!” ou “faça um
sinal de positivo!”. O paciente que aperta o dedo do socorrista pode apenas
estar demonstrando um reflexo em vez de uma resposta a um comando. Deve ser
empregado um estímulo doloroso se o doente não responder ao comando e a melhor
resposta motora deve ser registrada. Devemos considerar que um paciente está
localizando o estímulo doloroso quando ele tenta retirar o estímulo. Outras
respostas possíveis ao estímulo doloroso incluem retirada ao estímulo, flexão
anormal (decorticação) ou extensão anormal (descerebração) das extremidades
superiores, ou ausência de função motora.
Se no exame
primário for identificado nível de consciência rebaixado, as pupilas devem ser
examinadas rapidamente quanto à simetria e resposta ao estímulo luminoso.
Diferença maior que 1 mm no tamanho das pupilas é considerado anormal. Pequena
porcentagem da população apresenta anisocoria, pupilas de tamanhos diferentes,
que pode ser tanto de causa congênita como adquirida por trauma ocular. No
entanto, quando a anisocoria está presente, as duas pupilas serão igualmente
reativas.
Exposição/Ambiente
Pacientes que
sofrem LCT frequentemente apresentam outras lesões, portanto todo o corpo da
vítima deve ser examinado em busca de lesões graves com risco para a vida.
Exame
Secundário (Histórico e Exame Físico Direcionado
Assim que as
lesões com risco de vida tenham sido identificadas e tratadas, um exame
secundário completo deve ser realizado se as condições da vítima e o tempo
permitirem. A cabeça e a face do paciente devem ser palpadas cuidadosamente à
procura de ferimentos, depressões ou crepitações. A saída de fluido claro pelo
nariz ou pelo ouvido pode ser LCR. Quando colocado em chumaço de gaze ou tecido
o LCR, pode se separar do sangue, produzindo “halo” amarelado característico. O
tamanho e a resposta pupilar devem ser reavaliados neste momento. Devido à
incidência de fraturas da coluna cervical em doentes com LCT, o pescoço deve
ser examinado para identificar dor e deformidades ósseas.
Em paciente
cooperativo, deve ser realizado um exame neurológico mais detalhado, avaliando
a função motora e sensitiva em todos os membros. Déficits neurológicos, como
hemiparesia ou hemiplegia, podem estar presentes. Estes sinais de lateralização
são indicadores de LCT, ao passo que déficits neurológicos bilaterais, como a
tetraplegia e paraplegia podem indicar lesão medular.
Exames
Seriados
Cerca de 3% dos
pacientes com trauma de crânio leve (escore na Escala de Coma de Glasgow =
14-15) podem sofrer inesperada deterioração do seu nível de consciência.
Durante o transporte, o exame primário e a avaliação do escore na Escala de
Coma de Glasgow devem ser repetidos em intervalos frequêntes. Pacientes com
trauma craniano grave podem deteriorar rapidamente, por isso variações no
escore ou nos sinais vitais devem ser relatadas para a equipe hospitalar.
Condições
Específicas de Trauma Craniano
A concussão
cerebral pode ser considerada como uma “sacudida” no cérebro. O diagnóstico de
concussão é feito quando o paciente que sofreu trauma apresenta alterações na
função neurológica, mais comumente perda de consciência, não sendo identificada
nenhuma lesão intracraniana ao realizar tomografia computadorizada. Outros
achados neurológicos incluem déficits de memória, amnésia retrógrada e amnése
anterógrada. Este curto período de perda de memória frequentemente provoca
ansiedade e faz com que o paciente faça perguntas repetitivas. Fortes dores de
cabeça, tonturas, naúseas e vômitos acompanham a concussão. Embora muitos
desses achados tenham duração de algumas horas a poucos dias, alguns pacientes
podem apresentar síndrome pós-concussiva com dores de cabeça, tontura e
dificulade de concentração por semanas e até meses após concussão mais grave.
Fraturas de
Crânio
As fraturas de
crânio podem resular tanto de trauma fechado como de trauma penetrante.
Fraturas lineares correspondem a cerca de 80% das fraturas de crânio;
entretanto um forte impacto pode produzir uma fratura com afundamemento de
crânio na qual fragmentos ósseos são dirigidos para ou penetrarem no tecido
cerebral subjacente. Embora fraturas lineares simples possam ser diagnosticadas
somente por meio de estudo radiológico, fraturas com afundamento podem ser
palpadas durante cuidadoso exame físico. Fratura de crânio fechada e sem
afundamento por si só é de pouco significado clínico, mas a sua presença
aumenta muito o risco de hematoma intracraniano. Fraturas expostas de crânio
podem resultar de impacto particularmente forte ou ferimento por arma de fogo e
servem como porta de entrada para bactérias, predispondo o paciente a
meningite. Se a dura-máter estiver lesada, o tecido cerebral ou LCR podem extravasar
pela fratura exposta do crânio.
Deve-se suspeitar
de fraturas de base do crânio se houver drenagem de LCR pelo nariz ou ouvidos.
Equimose periorbital, muitas vezes referida como “olhos de guaxinin”, e o sinal
de Battle, em que se observa equimose na região retroauricular sobre o
mastóide, frequentemente estão presentes quando ocorrem fraturas da base do
crânio, embora estes sinais demorem algumas horas após a lesão para se tornar
aparentes.
Hematoma
Intracraniano
Hematomas
intracranianos são divididos em três tipos – epidural, subdural e
intracerebral. Por apresentarem sinais e sintomas que se sobrepõem, o
diagnóstico preciso no ambiente pré-hospitalar é quase impossível, embora o
socorrista possa suspeitar de hematoma epidural baseado nas características
clínicas apresentadas. Mesmo assim, um diagnóstico definitivo apenas pode ser
feito após a realização de tomografia computadorizada. Como esses hematomas
ocupam espaço dentro do crânio que é rígido, podem produzir rápido aumento da
PIC, especialmente se forem volumosos.
Hematoma
Epidural
Os hematomas
epidurais são responsáveis por cerca de 2% das LCTs que requerem hospitalização
e têm taxa de mortalidade de cerca de 20%. Estes hematomas frequentemente
resultam de impactos de baixa velocidade no osso temporal, como um golpe por um
soco ou uma bola. A fratura desse osso pouco espesso lesa a artéria meníngea
média, resultando em sangramento arterial que se acumula entre o crânio e a
duramáter. A história clássica de hematoma epidural é de um paciente que
apresentou um período curto de perda de consciência, recobrou a consciência e
posteriormente evoluiu com rápido rebaixamento do nível de consciência. Durante
o período de consciência, chamado intervalo lúcido, o paciente pode estar
orientado ou letárgico e queixar-se de dor de cabeça.
À medida que
piora o nível de consciência do paciente, o exame pode revelar uma pupila
dilatada com reflexo lento ou não reativa do mesmo lado do impacto. Como os
nervos motores cruzam-se na medula espinhal, ocorre hemiparesia ou hemiplegia
do lado oposto ao do impacto. Se o hematoma for identificado precocemente e o
paciente receber pronto tratamento neurocirúrgico, o prognóstico é excelente,
pois o paciente em geral não tem lesão cerebral grave subjacente.
Hematoma
Subdural
Hematomas
subdurais são responsáveis por cerca de 30% dos traumas de crânio graves. Além
de serem mais comuns que os epidurais, eles também fiferem quanto à etiologia,
localização e prognóstico. Ao contrário do sangramento arterial que produz o
hematoma epidural, o hematoma subdural geralmente resulta de sangramento
venoso, pela lesão das veias ponte que ocupam o espaço subdural, durante um
impacto violento na cabeça. Neste caso, o sangue irá se acumular no espaço
subdural, entre a dura-máter e aracnóide. Déficits neurológicos focais podem
aparecer imediatemente após o trauma, ou os sinais podem demorar dias ou até
meses para se apresentar. Os hematomas subdurais são classificados em três
tipos dependendo do tempo de manifestações das alterações neurológicas:
- 1.
No hematoma subdural agudo, os déficits neurológicos podem ser
identificados dentro de 72 horas após o trauma e, em geral, antes disso. O
paciente normalmente apresenta um histórico de trauma provocado por um
mecanismo de alta velocidade, como um acidente automobilístico ou uma
agressão com objeto rígido. Como uma lesão cerebral significante está
frequentemente associada com esta condição, a taxa de mortalidade varia de
50% a 60%, mesmo quando o diagnóstico e a drenagem cirúrgica são
realizadas com rápidez.
- 2.
Hematoma subdurais subagudos se desenvolvem mais gradualmente com o
aparecimento dos sinais e sintomas ocorrendo no período de 3 a 21 dias.
Devido ao acúmulo de sangue mais lento e uma lesão cerebral menos extensa,
os hematomas subdurais subagudos apresentam taxa de mortalidade em torno de
25%.
- 3.
Os hematomas subdurais crônicos podem apresentar manifestações
neurológicas meses após um trauma craniano aparentemente de pouca
importância. Esta condição geralmente ocorre em pecientes alcoólatras
crônicos que estão propensos a quedas frequentes e têm taxa de mortalidade
em torno de 50%.
Além das
alterações do nível de consciência, achados neurológicos específicos podm
variar dependendo da localização do hematoma; no entanto, o paciente, ou seus
familiares, pode relatar queixas de dor de cabeça, distúrbios visuais,
alterações da personalidade, dificuldade de fala e hemiparesia ou hemiplegia.
Hematoma
Intracerebral
Lesão de vasos
sanguíneos intracerebrais pode produzir hematoma intracerebral ou contusão
cerebral. São de ocorrência bastante comum, acontecendo em cerca de 20% a 30%
das lesões cerebrais graves. Embora essas sejam resultado de um trauma fechado,
elas podem também ser decorrentes de trauma penetrante como ferimento no
cérebro por arma de fogo. No trauma fechado, as contusões cerebrais podem ser
numerosas. Um hematoma geralmente ocorre no local do impacto quando o cérebro
colide com a superfície interna do crânio (lesão de golpe), e uma segunda lesão
pode ocorrer no local oposto ao ponto de impacto quando houver cisalhamento
entre o cérebro e a caixa craniana (lesão de contragolpe). Estes hematomas
podem aumentar após o trauma e desencadear convulsões e aumentos importantes da
PIC. Os achados neurológicos específicos dependem da localização e da extensão
do hematoma.
Tratamento
Imediato
O tratamento
adequado de paciente com LCT começa com intervenções que obedecem uma sequência
priorizando o tratamento de lesões que comprometem a vida identificadas no eame
primário. Uma vez tratadas as alterações, o paciente deve ser rapidamente
imobilizado e transportado para o hospital mais próximo com recuscos para
atender o LCT.
Vias Aéreas
Pacientes com
rebaixamento do nível de consciência podem ser incapazes de proteger sua via
aérea. Todos os pacientes com LCT Grave (escala de Coma de Glasgow 8 ou menos)
são candidatos a intubação traqueal, embora isto possa ser desafiador quando se
trata de pacientes agressivos, quando cerram os músculos da mandíbula (trismo),
na presença de vômitos, e devido à necessidade de manter a coluna cervical do
paciente alinhada e imobilizada.
O uso de agentes
bloqueadores neuromusculares (curalizantes) como parte do protocolo da
sequência de intubação rápida pode facilitar o procedimento de intubação. A
intubação nasotraqueal às cegas pode ser uma técnica alternativa, mas a
presença de trauma na região medial da face é contra-indicação relativa para
realização deste procedimento. O equipamento de aspiração deve estar próximo e
pronto para uso. Se não houver sucesso na tentativa de intubação, deve-se
evitar laringoscopias prolongadas, principalmente se o tempo de transporte for
curto. O uso de cânulo orofaríngea e ventilação com máscara facial, associada a
balão dotado de válvula unidirecional ou ventilação transtraqueal percutânea,
são alternativas possíveis.
Respiração
Todos os
pacientes com suspeita de LCT devem receber oxigênio suplementar. O uso de
oximetria de pulso é de extrema importância, pois a hipóxia pode piorar o
quadro neurológico. A concentração de oxigênio pode ser titulada quando se usa
a oximetria de pulso; no entanto, a saturação de oxigênio (SaO2) deve ser
mantida em 95% ou mais. Se a oximentria de pulso não está disponível, o
oxigênio deve ser fornecido por máscara facial unidirecional para pacientes que
apresentam respiração espontânea. Para os pacientes intubados, deve ser mantida
a concentração de oxigênio de 1oo%. Se persistir a hipóxia mesmo com a oferta
de oxigênio, o socorrista deve tentar identificar e tratar todas as prováveis
etiologias, incluindo aspiração e pneumotórax hipertensivo. Uso de válvulas de
são expiratória final positiva (PEEP) pode ser considerado para melhorar a
oxigenação, no entanto, níveis de PEEP maiores do que 15 cm H2O podem produzir
aumento da PIC.
Como a hipocapnia
e a hipercapnia podem agravar a lesão cerebral, pode ser considerada a
monitoração da concentração de CO2 (capnografia), com valores aceitáveis da
concentração de CO2 variando de 30 a 35 mm Hg. Se a capnografia não estiver
disponível, o socorrista deve manter taxas normais de ventilação quando o
paciente com LCT estiver sob ventilação assistida – 10 respirações por minuto
para adulto e 20 respirações por minuto para crianças e 25 rpm para bebês.
Hiperventilação muito agressiva produz vasoconstrição cerebral que, por sua
vez, leva a diminuição da oferta de oxigênio para o cérebro. Tem sido
demonstrado que a hiperventilação profilática de rotina piora o quadro
neurológico e não deve ser utilizada.
Circulação
A anemia e a
hipotensão são causas importantes de lesão cerebral secundária, portanto
devem-se prevenir e tratar estas condições. O controle da hemorragiaa é
essencial. Pressão direta sobre o local ou curativos compressivos devem ser
aplicados em qualquer hemorragia externa. Ferimentos complexos no couro
cabeludo podem produzir sangramento externo significativo. Alguns chumaços de
gaze colocados sobre o local e fixados com bandagem elástica tornam-se um
curativo compressivo efetivo para controlar o sangramento; no entanto, esta
compressão não deve ser aplicada em fraturas abertas ou com afundamento de
crânio a menos que haja hemorragia significante, porque a compressão pode
agravar a lesão cerebral e levar a aumento da PIC. Uma discreta pressão direta
sobre o ferimento também pode limitar o tamanho de hematomas extracranianos
(couro cabeludo). Manejo delicado e imobilização em prancha longa, mantendo
alinhamento anatômico, pode minimizar a perda sanguínea intersticial no local
da fratura.
Como a hipotensão
piora ainda mais a isquemia cerebral, devem-se adotar medidas-padrão para
combater o quadro de choque. Em pacientes com lesão cerebral traumática, a
combinação de hipóxia e hipotensão está associada com taxa de mortalidade de
cerca de 75%. Na presença de choque e suspeita de sangramento interno
importante, o transporte rápido para um centro de trauma tem prioridade com
relação à lesão cerebral.
O choque
hipovolêmico e o neurogênio devem ser tratdos por reanimação com soluções
cristalóides isotônicas; no entanto o transporte não deve ser retardado para
que se estabeleça um acesso venoso. Embora a avaliação do volume sanguíneo seja
muito difícil no ambiente pré-hospitalar, o socorrista deve fazer com que o
paciente retorne ao estado de volume circulatório normal. Para preservar a
perfusão cerebral, devem-se utilizar recursos para manter pressão sanguínea sistólica
de pelo menos 90 a 100 mm Hg; entretanto a reposição volêmica excessiva pode
levar a sangramento interno descontrolado, aumento do edema cerebral e da PIC.
Para pacientes
adultos com LCT e sinais vitais normais, sem suspeita de outras lesões, devem-se
administrar fluidos intravenosos em velocidade não maior que 125 mL/h, e ajuste
se surgirem sinais de choque. Se houver indicação, de acordo com as lesões
apresentadas pelo paciente como suspeita de uma grave fratua de pelve, pode-se
aplicar a calça pneumática antichoque.
Incapacidade –
Estado Neurológico
Intervenções
neurocirúrgicas para inserir dipositivos para monitoração da PIC ou drenagem de
hematomas intracranianos não são realizadas no atendimento pré-hospitalar. Como
tem sido enfatizado, o tratamento pré-hospitalar da lesão cerebral traumática
consiste em medidas que visam reverter e prevenir fatores que causem uma lesão
cerebral secundária. Convulsões prolongadas ou de grande mal e múltiplas podem
ser tratadas com a administração de benzodiazepínicos intravenoso, como
diazepam, lorazepam ou midazolam. Estas drogas devem ser tituladas com cautela,
pois podem provocar hipotensão e depressão respiratória.
Devido a
incidência significativa de fraturas da coluna cervical, pacientes com suspeita
de lesão cerebral traumática devem ter a coluna imobilizada. Deve haver muita
cautela ao aplicar o colar cervical em vítima com LCT. Algumas evidências
sugerem que manter o colar cervical firmemente ajustado pode impedir o retorno
venoso da região cefálica, assim levando a aumento da PIC. A colocação do colar
cervical não é obrigatória desde que se mantenha imobilização adequada da
coluna cervical.
Reabilitação
No trauma, o
tecido cerebral é irreparavelmente danificado por contusão da massa cinzenta ou
rompimento axonal. Uma variedade de processos secundários podem também aumentar
a extensão da deficiência funcional. Edema cerebral pode inibir a atividade
metabólica de neurônios intactos e causar isquemia. A administração de
anticonvulsivantes pode inibir a atividade neural marginal. O tecido cerebral
que está funcionalmente prejudicado mas não destruído pode gradualmente retomar
a função conforme a estabilização do estado clínico e a resolução do edema.
Espera-se que esse mecanismo entre em funcionamento nos primeiros dias ou semanas
após a lesão.
Regeneração
Neuronal
Há evidências de
que os neurônios do sistema nervoso central seja capaz de regeneração
dendrítica e axonal após a lesão. Isso representa um mecanismo potencial para o
restabelecimento de conexões cerebrais com o tempo, que poderiam contribuir
para a recuperação funcional. Esse processo de regeneração não está claro por
diversas razãoes, tais como:
- -
A regeneração de fibras pode depender da idade, ocorrendo mais prontamente
na infância, durante o desenvolvimento neural normal.
- -
É provável que a regeneração de fibras ocorra em graus diferentes em
sistemas cerebrais diferentes. Fibras filogeneticamentes mais velhas,
desmielinizadas mostram maior regeneração do que sistemas
recém-mielinizados.
- -
A regeneração de fibras é mais fácil de demonstrar em distâncias curtas. A
reconexão de estruturas distantes é mais questionável e pode ser inibida
por proliferação glial interveniente.
- -
O resultado de regeneração de fibras pode não ser benéfico para o
organismo. Novas conexões sinápticas melhoraram a recuperação da função,
contribuíram para sintomas indesejados ou foram “neutras”, dependendo da
situação.
Se a regeneração
neuronal tem um papel importante na recuperação funcional humana, provavelmente
levará um período de tempo relativamente longo de semanas a meses. Experiência
e treinamento podem ter um papel em promover a regeneração de fibras ou em
selecionar e perpetuar conexões novas e úteis.
Reorganização
Funcional
Em áreas do
sistema nervoso central que são relativemente muito ligadas para funções
motoras e sensoriais, um grau impressionante de plasticidade pode ocorrer em
resposta a mudanças traumáticas. Em macacos, por exemplo, a remoção de
informações periféricas para o córtex somatossensorial resulta na reorganização
da região desaferente do cérebro de forma que ela responda a estímulos de
receptores periféricos diferentes, intactos. Inversamente, a ablação do tecido
cortical somatossensorial é seguida por “reorganização” do córtex saudável
adjacente a estímulos anteriormente subservidos pela área lesionada. Uma vez
que essas reorganizações podem ocorrer muito rapidamente, especula-se que elas
representam a potenciação de conexões existentes (talvez não utilizadas) ao
invés dos efeitos de regeneração neuronal.
Está cada vez
mais claro que o treinamento e a experiência têm um importante papel na
representação neuronal da função, com ou sem trauma do sistema nervoso. Após
ablações motoras do córtex em macacos, treinamento e prática em habilidades
motoras delicadas parece recrutar o córtex adjcente para assumir a
representação do fluxo do tecido próximo que sofreu ablação.
Em humanos,
técnicas de imagem cada vez mais sofisticadas têm permitido o estudo das
respostas plásticas do córtex à prática a ao treinamento. Imagem por
ressonância magnética funcional, por exemplo, mostra que a área do córtex motor
ativado ao desempenhar uma sequência motora aumenta com a prática repetida
daquela sequência. Além disso, o ensaio mental de uma sequência de movimentos
parece potencializar novas respostas do córtex motor quase tão bem quanto a
prática física real. O uso desses paradigmas experimentais em pacientes com
lesão cerebral pode eventualmente ajudar a revelar os fundamentos fisiológicos
para a prática da reabilitação.
Alterações
Sinápticas
O sistema nervoso
central depende de uma variedade de estímulos para as suas atividades
contínuas. A perda repentina de estímulos pode levar à depressão marcada de
estruturas não danificadas (diásquise). Por exemplo o fluxo sanguíneo cerebral
no lado não envolvido é marcadamente diminuído após um acidente vascular
cerebral por até um mês. Parece que uma lesão do sistema nervoso central,
portanto, pode potencialmente romper não só as funções servidas por aquela
região mas também aquelas servidas por uma variedade de regiões para a qual ela
se projeta.
Com o tempo,
alterações podem ocorrer na sensibilidade do receptor dos neurotransmissores
restantes. Esse processo é análogo à supersensibilidade por desnervação ou
taquifilaxia ocorrendo na periferia. Há potencial para conexões neurais
rompidas parcialmente de reexercer níveis normais de função se a regulação do
receptor neurotransmissor levar a uma sensibilidade aumentada a níveis
residuais de transmissores. Há evidência considerável em humanos que certos
receptores agonistas podem acelerar a recuperação funcional enquanto doses de
antagonistas causam regressão.
Avaliação e
Planejamento do Tratamento e Reabilitação
A escala de Coma
de Glagow, desenvolvida por Jannet e Teasdale é usada para documentar a nível
de consciência e a gravidade da lesão. Ela relaciona a consciência à resposta
motora, resposta verbal e abertura ocular. Os pacientes com uma pontuação total
de 8 ou menos são identificados estando em coma e com lesões cerebrais graves.
Os pacientes com lesões cerebrais moderadas fazem uma pontuação entre 9 e 12 e
aqueles com lesões cerebrais leves pontuam 13 e 15, que é o máximo de pontos.
Escala para o
Nível de Funcionamento Cognitivo Rancho Los Amigos
A Escala do
Rancho Los Amigos para o nível de Funcionamento Cognitivo é uma escala
decritiva que delineia uma sequência previsível de recuperação cognitiva e
comportamental vista pacientes com LCT. Esta escala não aborda déficits
específicos, mas é útil para comunicar o estado cogntivo e/ou comportamental
geral e usar tal informação para planejamento do tratamento.
Identificando
Problemas Após Lesão Cerebral Traumática
Fraturas
Muitas fraturas
são diagnosticas no período agudo da lesão, mas outras mais súbitas
frequentemente passam desapercebidas até a transferência para a reabilitação,
quando o paciente apresenta aumento dos movimentos e sensibilidade à dor.
Qualquer tumefação inexplicada, deformidade ou sensibilidade à dor deve alertar
para fratura oculta. As fraturas em TCE predispóem a HO. Por exemplo, apesar do
tratamento cirúrgico apropriado de 23 fraturas do acetábulo, 61% tiveram
resultados fracos por causa do HO. Em geral, a redução aberta e a fixação
interna são usados em TCE para promover a mobilização precoce, simplificar o
cuidado do paciente e melhorar resultados sem efeitos adversos.
A fixação precoce
pode reduzir custos com cuidados com a saúde e atraso na mobilidade, mas faz
efeito sobre a necessidade de recuperação funcional final. Apesar das fraturas
poderem complicar o processo de reabilitação por atraso na mobilidade, elas têm
um impacto no nível funcional final.
Convulsões
A eplepsia
pós-traumática é comum depois de TCE significativo. O risco de convulsões
continuadas está relacionado à gravidade da lesão, fratura de crânio
especificamente em depressão, hematoma intracranial, ataque precoce e distúrbio
prolongado da consciência. O risco de desenvolvimento de convulsão é maior nos
primeiros dois anos após a lesão e diminui gradualmente. A resolução espontânea
de um distúrbio de convulsão também ocorre, indicando a necessidade de
reavaliação periódica.
Muitas convulsões
são diagnósticadas clinicamente com base em atividade motora focal ou
generalizada. Os pacientes com espasmos musculares, tremores ou fasciculações
podem apresentar dilemas de diagnóstico. Em tais casos, em EEG de rotina ou por
privação de sono pode revelar atividade epileptiforme. Convulsões nas áreas
límbicas podem levar a comportamento alterado ou estado de consciência.
A profilaxia de
convulsões a longo prazo não é mais recomendada e não tem mostrado ser benéfica
em prevenir ataques pós-traumáticos cedo ou tarde. Não há recomendações
padronizadas sobre a duração do tratamento. Em vista do custo e da toxicidade
potencial dos anticonvulsivantes, muitos suspendem a medicação entre 1 e 2 anos
livres de convulsões.
Hidrocefalia
A dilatação
ventricular ocorre em até 40% dos pacientes com TCE Grave e geralmente começa a
aparecer dentro de 2 semanas após a lesão. Em alguns casos, a ventriculomegalia
resulta de atrofia difusa ou infarto do tecido cerebral. O achatamento do sulco
cortical e luminosidade periventricular tendem a apoiar o diagnóstico de
hidrocefalia clinicamente importante.
A hidrocefalia em
TCE é mais frequentemente do tipo comunicante ou de pressão normal.
Infelizmente, a tríade de diagnóstico clássico, incontinência, distúrbio da
marcha e demência é de pouca ajuda em pacientes incapacitados gravemente. A
insuficiência na melhora ou na deterioração da função cognitiva ou
comportamental deve alertar para avaliação com exames de TC. A hidrocefalia e
insuficiência da derivação podem não ser identificadas através de um exame
neurológico padrão, especialmente em um paciente com um exame de base anormal.
Portanto, é crucial que os profissionais envolvidos no tratamento incoporem
achados de flutuações cognitivas e comportamentais de toda a equipe pra
diagnósticar precocemente a hidrocefalia.
Hipertensão
Hipertensão,
taquicardia e resultado cardíaco aumentado no período agudo após a lesão
resultam da liberação aumentada de epinefrina e norepinefrina. Portanto,
bloqueadores beta representam a intervenção mais específica nesse grupo de
pacientes. O propranolol e a metildopa causam deficiências cognitivas em
pacientes hipertensos. Consequentemente, o uso de bloqueadores beta altamente
polares tais como o atenolol ou nadolol podem ser preferíveis. Esses agentes
atravessam muito pouco a barreira hemato-encefálica em pessoas não lesionadas,
mas isso não foi estudado na lesão cerebral difusa, em que barreira pode estar
rompida.
Na lesão grave do
cérebro, a hipertensão pode persistir além da fase aguda. Isso pode estar
ligado à lesão do tronco cerebral, hipotálamo ou regiões orbitofrontais, mas
pode haver outros fatores contribuintes. A avaliação pode excluir lesão medular
oculta, pressão intracraniana aumentada, anormalidades renais e adrenais ou
hipotireoidismo deve ser considerado.
A hipertensão
continuada não é frequente após TCE, a menos que já houvesse hipertensão
preexistente. Onde a hipertensão existe, inibidores da enzima conversora de
angiotensina (ECA), bloqueadores dos canais de cálcio e diuréticos são menos
prováveis de causar deficiência cognitiva. Se a medicação eferece efeitos
colaterais no sistema nervoso central deve ser usada, é prudente informar à
equipe de reabilitação de forma que a deterioração cognitiva possa ser obervada
e relatada.
Distúrbios
Cardiopulmonares
O TCE Grave pode
produzir parada cardiorrespiratória ou disritmias. Tais distúrbios do controle
cardiorrespiratório são indicações de lesão grave do cérebro e causam lesão por
hipoxia mais adiante. A lesão cardíaca ocorre como um resultado de trauma cego
do ventrículo direito contra o externo. Isso resulta resulta em elevações
precoces das enzimas cardíacas, anormalidades da parede cardíaca e resultado
cardíaco diminuído.
Hiperatividade
simpática central pode levar a necrose miocárdica contínua pelos dias
seguintes. Apesar dessas lesões poderem resultar em mudanças prolongadas no
eletrocardiograma (exemplo, ondas Q, alterações do segmento S-T), sua
importância para a saúde cardiovascular dos pacientes a longo prazo é
desconhecida.
Traumas múltiplos
frequentemente causam pneumotórax, contusões pulmonares e lacerações. Além
disso, acredita-se que o escoamento alfa-afrenérgico intenso cause edema
pulmonar não cardiogênico. Esses e outros problemas podem mais tarde
comprometer a oxigenação cerebral.
Muitos pacientes
com lesão cerebral necessitam de traqueostomia para ventilação e sucção. O ar
umidificado pode ser liberado através de um colar de traqueostomia para manter
úmidas as secreções, e prevenir a traqueíte e rolhas de secreção.
Os pacientes que
inicialmente necessitavam de oxigênio suplementar geralmente podem ser
desmamados do oxigênio pela avaliação da oximetria de pulso e constantemente
após ele ter sido interrompido. Para a preocupação sobre a retenção de dióxido
de carbono, a medição do gases sanguíneos arteriais é recomendado. O tubo da
traqueostomia é um agente irritante que produz mais secreções.
Os pacientes com
TCE Grave demonstram capacidade pulmonar diminuída, capacidade vital e volume
expiratório forçado. A etiologia dessas anormalidades não é inteiramente clara,
mas parece ser uma combinação de fraqueza muscular e falta de coordenação,
complacência diminuída, descondicionamento e fadiga.
Disfunção
Hipotalâmica e Endócrina
O TCE Grave causa
inúmeras mudanças endócrinas, incluindo derramamento de norepinefrina e
epinefrina, um aumento em aldosterona, glicose e cortisol e uma queda nos
hormônios da tireóide, todos relacionados a gravidade da lesão. A elevação do
cortisol está relacionada à PIC, mas somente na presença de um tronco cerebral
intacto. O mecanismo é desconhecido, já que não está associado à secreção
elevada de hormônio adrenocorticóide. Em pacientes com lesão de leve a
moderada, há uma correlação inversa entre os níveis de epinefrina e
norepinefrina e hormônios da tireóide, e parece que os hormônios adrenérgicos
podem inibir diretamente a libereação de hormônios da tireóide. Potencialmente,
o TCE pode lesionar a pituitária diretamente ou pode causar um déficit hipotalâmico
ou controle inibidor.
A lesão cerebral
traumática pode resultar ou em diabetes insípido ou na síndrome da secreção
inapropriada de hormônio antidiurético inapropriado (SIHA). O hormônio
antidiurético é secretado de células neuroendócrinas na pituitária posterior. O
mecanismo da SIHA traumático é desconhecido, mas pode estar relacionado à perda
da inibição cortical ou límbica do hipotálamo.
O diabetes
insípito ocorre como um resultado da deficiência ou necrose da pituitária
posterior. Pode aparecer até um mês após a lesão, talvez porque o tecido
necrosante pode liberar HÁ estocado por aquele período. Ambos os distúrbios
podem ser gerenciados agudamente pelo controle fluídico e ingestão de
eletrólitos e monitoramento eletrólito do soro e osmolaridade.
Dano da
pituitária anterior pode variar de pan-hipopituitarismo à perda seletiva de
hormônios estimulantes gonádicos, tirotropina ou ACTH. Sinais clínicos podem
ser sutis e confundidos com outras causas de anormalidades cognitivas,
comportamentais e fisiológicas. Hipotensão ou hipotermia ou declínio cohnitivo
pode ser um indicador de disjunção endócrina. Amenorréia secundária em
pacientes mulheres é comum e pode predispor a osteoporose. Ironicamente, a
puberdade precoce após TCE foi relatada em crianças.
Ginecomastia e
galactorréia orrorem devido às elevações da prolactina. Em pacientes normais, a
secreção de prolactina é controlada pela inibição hipotalâmica tônica. A lesão
cerebral frequentemente rompe essas influências inibidoras. Trauma de toráx e
número de medicações podem resultar em galactorréia.
Disfunção sexual
em homens com lesão cerebral é mais comum do que pode ser explicado com base na
disjunção endócrina, mas está reacionada a outros índices da gravidade da
lesão, sugerindo um componente psicossocial.
Disfunção do
Nervo Craniano
Lesões do nervo
olfatório comumente acompanham trauma da cabeça significativo por causa da
delicada anatomia das fibras saindo da placa cribriforme; elas são
particularmente prováveis em associação com rinorréia fluida cerebroespinhal. O
diagnóstico pode ser falho por teste sensorial incompleto. É possível testar
objetivamente o olfato usando um painel de odores de raspar e cheirar. O teste
em série pode revelar um certo grau de recuperação. Déficits olfátorios podem
ter um papel no comportamento alimentar alterado.
Deficiência
visual pode ocorrer como estoma irregular que difere nos dois olhos, como
hemianopia homônima ou como cegueira completa. Lesões do nervo óptico devem
distinguidas da hemi-desatenção, da cegueira cortical e agnosia visual. A
avaliação precoce pode ser feita em termos brutos através do exame fundoscópio,
estudos da resposta evocada visual e avaliação pupilar. A visão e atenção
visual podem ser avaliadas em pacientes gravemente deficientes, usando
apresentação repetidas de fotografias coloridas e cartões em cada hemi-campo.
Movimentos
extra-oculares podem ser afetados pelo dano dos nervos craniais, pelos núcleos
do tronco cerebral ou pela deficiência das estruturas coordenativas no mesencéfalo
e cerebelo. Além disso, fraturas ornitais ou danos aos músculos extra-oculares
podem produzir um olhar fixo não-conjugado.
Frauras dos ossos
temporais podem romper a função do nervo facial temporária ou permanentemente.
Isso deve ser diferenciado da fraqueza facial central cortical ou subcortical.
Um estudo eletromiográfico pode esclarecer melhor o prognóstico.
Fraturas do
crânio também podem romper as vias auditivas ou vestibulares. O deslocamento
ossicular pode levar a perda de audição condutiva. Respostas evocadas auditivas
do tronco cerebral podem ser úteis na avaliação da função auditiva em pacientes
comatosos ou não cooperativos; entretanto, se nenhuma resposta é vista na
intensidade normal, o limiar da audição deve ser avaliado aumentando as
intensidades. O teste calórico pode fornecer informações sobre a função
vestibular.
Movimentos da
língua, da faringe e da laringe frequentemente ficam deficientes com TCE Grave
em vários níveis do sistema nervoso central. A avaliação da função motora oral
incluindo tossir e reflexos de náusea e laringoscopia indireta podem ajudar a
esclarecer a localização e a extensão do problema. Tais distúrbios serão
relevantes para a alimentação oral segura, assim como para comunicação vocal.
Déficits
Sensoriais
A lesão cerebral
por trauma pode produzir distúrbios de qualquer uma das modalidades sensoriais.
Dependendo da locaização e da gravidade do dano, estes podem ser distúrbios da
sensação básica (por exemplo, atividade visual diminuída) ou de processamento da
sensação (percepção espacial visual deficiente). Ambas as formas de distúrbio
podem ser incapacitantes.
Distúrbios da
sensação somestética podem resultar do dano de uma variedade de estruturas
cerebrais e podem distorcer o tato, dor, temperatura e informação da posição.
Síndromes da dor podem resultar de lesão central do tálamo, de outras
estruturas cerebrais ou da reverberação dinâmica da laça corticotalâmica.
Ossificação
Heterotópica
A ossificação
heterotopica (OH) ocorre em 11% a 76% dos pacientes gravemente lesionados,
principalmente em articulações proximais das extremidades superiores e
inferiores. A etiologia da OH em lesão cerebral é desconhecida. Fatores de
risco incluem coma prolongado, tônus muscular aumentado na extremidade
envolvida e fraturas associadas.
A ossificação
heterotópica pode se apresentar com dor, calor, tumefação e formação de
contratura, mas pode estar oculta. O diagnóstico cedo é possível com
radiografia simples. Exercícios de amplitude de movimento são indicados para
prevenir anquiloses. Se a anquilose parece inevitável apesar dos exercícios,
ela deveria ser estimulada a ocorrer na posição mais funcional.
Tônus Muscular
e Contraturas
O tônus muscular
aumentado após TCE pode incluir espasticidade verdadeira. Distonia, postura em
resposta à posição da cabeça e estimulação cutânea e síndromes extrapiramidais
também são comuns. O tratamento indicado para o tônus muscular aumentado é
baseado na restabelecimento da função, não somente para alterção do estado de
tônus.
Modalidades
fisiotererapêuticas como o calor, o frio, cinesioterapia, alongamentos ou
posturas inibitórias podem ser úteis em hipertonias.
As contraturas
após TCE geralmente resultam de tônus aumentado ou de OH. Idealmente, as
contraturas deveriam ser prevenidas através de exercícios de amplitude de
movimento, imobilização e tratamento do tônus. As contraturas em pacientes são
tratadas com fisioterapia.
Distúrbios
Motores
A natureza difusa
e multifocal da condição neuropatológica pode apresentar didtúrios dos tônus,
paralisias ou paresia isoladas ou de grupos musculares, combinações de membros
ou do corpo todo como a tetraplegia.
Distúrbios do
equilíbrio e coordenação podem resultar do dano ao cerebelo ou às suas conexões
e ataxia profunda. Tremores, bradicinesia e parkinsonismo podem acompanhar
gânglios da base e lesões de substância negra. Pode haver ainda lesões do
sistema nervoso periférico como resultado de traumas e ossificação
heterotópica. A ataxia é difícil de ser tratada e paciente pode se beneficiar
de um andador.
Observa-se a
disartria após lesão cerebral e pode ser resulatdo do dano ao sistema nervoso
periférico ou central, afetando o controle motor do mecanismo da fala.
Descobrui-se que isso ocorre em lesões focais do hemisfério esquerdo e em casos
de lesão difusa. O paciente disártrico deve receber exercícios
fisioterapêuticos para fortalecimento motor oral e exercícios de coordenação
para melhorar o controle motor da ATM.
Disfunção do
Intestino e da Bexiga
Lesões do lobo
frontal, podem prejudicar o controle inibitório sobre a evacuação do intestino
e da bexiga, levando a urgência e incontinência. A dissinergia
detrusor-esfícter pode ocorrer, entretanto, particularmente com envolvimento
significativo do tronco cerebral abaixo do centro pontino da micção.
Treinamento de micção e sonda vesical.
Conclusão
As necessidades
de reabilitação do paciente com trauma craniencefálico grave frequentemente
começam na beira da estrada ou no local dos cuidados de emergência, mas não é
certo que terminem por muitos anos. Apesar de muitas condições clínicas e
déficits físicos se estabilizarem dentro de 1 ano após a lesão, a presença de
distúrbios psicológicos a longo prazo frequentemente necessita de uma variedade
de intervenções, incluindo gerenciamento comportamental e reabilitação
cognitiva.
Referência
BENNETT, C.J.;
GOLDMAN, L. Cecil: Tratado de Medicina Interna. 2.ed. Vol.2. Guanabara Koogan,
Rio de Janeiro, RJ, 2001.
DELISA, J. A.
Tratado de Medicina de Reabilitação: Princípios e Prática. 3. ed. São Paulo:
Manole. 2002, v.1 e 2.
O'SULLIVAN, Susan
B. & SCHMITZ, Thomas J. - Fisioterapia, Avaliação e Tratamento, segunda
edição, Editora Manole, SP, 1993.
PHTLS, Comitê do
; National Association of Emergency Medical Technicians (NEAEMT) em colaboração
com o Colégio Americano de Cirurgiões. PHTLS –Atendimento Pré-hospitalar ao
Traumatizado. 5 ed. – Elsevier Editoda Ltda. Rio de Janeiro, 2004.
4 comentários:
A disartria ou disartrofonia é trabalhada na FONOTERAPIA com o profissional Fonoaudiólogo, uma vez que essa alteração envolve a PRODUÇÃO DA FALA podendo comprometer nas suas bases: respiração, fonação, articulação, ressonância e prosódia.
O trabalho interdisciplinar é, sem dúvida, o caminho mais seguro para os pacientes pós trauma e disártricos. desde que discutidos os casos e acordados os objetivos terapêuticos.
A minha filha Andrea sofreu um tce grave mas está se recuperando bem devagar
Olá... cerca de 4 anos passei por um acidente de moto onde tive emorragia subaractoide, traumatismo,fissura no crânio e edema cerebral, como resultado perdi o olfato... teria alguma possibilidade da medicina me ajudar a voltar a sentir o cheiro?
Minha filha teve uma hipoglicemia severa que chegou a 12, durante a madrugada do dia 02/09 para 02/09/2016....
Gostaria de saber como faço pra estimular o lado esquerdo dela,o mais afetado...
Ela por enqto usa TQT e GTT.....embora já alimenta por via oral...sendo que pelos médicos ela jamais faria isso....
Tem vários momentos de lucidez,mesmo não comunicando...ela tem evoluído bastante...mas preciso de ajuda....
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